Tron - O Legado



Dirigido por Joseph Kosinski. Com: Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Olivia Wilde, Bruce Boxleitner, Beau Garrett, Anis Cheurfa, Cillian Murphy, Michael Sheen.
Lançado em 1982, Tron – Uma Odisséia Eletrônica entrou para a história do Cinema ao se tornar o primeiro filme a usar amplamente efeitos criados em computador, seja em cenas completamente concebidas virtualmente ou em seqüências que combinavam cenários digitais e atores de carne-e-osso. Já seu roteiro era uma bagunça que não fazia o menor sentido, mas isto não fez a menor diferença para os espectadores da época, que ficaram fascinados diante do visual inovador da produção. Inacreditáveis 28 anos depois, eis que surge esta continuação, que, apropriadamente, mais uma vez investe com muito mais dedicação em seus efeitos visuais do que em sua história.
Escrito por Edward Kitsis e Adam Horowitz (ambos da série Lost) a partir de argumento concebido ao lado de Brian Klugman e Lee Sternthal, Tron – O Legado tem início sete anos depois dos acontecimentos vistos no original. Presidente bem-sucedido da Encom, Kevin Flynn (Bridges) desaparece certa noite, deixando órfãos seu filho Sam e a empresa, que, 21 anos depois, está prestes a trair todos os princípios do sujeito ao lançar um produto defeituoso criado por Edward Dillinger (Cillian Murphy, irreconhecível), herdeiro do vilão do primeiro filme. É então que Sam descobre o paradeiro do pai, que se encontra preso na Grade – o mundo virtual que vinha criando e que agora é dominado por CLU (também Bridges), o programa desenvolvido por Flynn para cuidar daquele universo.
Respeitosos com o legado (hum) do longa de 82, os roteiristas buscam se manter fiéis ao tom daquele projeto, esforçando-se até mesmo para incluir pequenas referências que certamente agradarão os fãs (o nome “Dumont” pode ser lido na casa de Sam, que, além disso, repete a piada bobinha feita pelo pai há quase 30 anos ao invadir a Encom: “Esta é uma porta grande”). Mas o mais importante é perceber como a Grade surge como uma clara evolução do mundo virtual habitado por Tron, CLU, Sark e pelo implacável MCP naquele filme: sim, há (muitos) novos personagens, ambientes e veículos, mas os velhos Reconhecedores (as naves em forma de “M”) e as motos de luz voltam em versões 2.0 (ou 200.0) que respeitam os designs originais ao mesmo tempo em que os modernizam – e até mesmo a arena em que a corrida/combate é disputada ganha novos níveis, tornando o confronto mais emocionante e dinâmico.
Já a trama, embora mais coesa do que aquela que amarrava Uma Odisséia Eletrônica, permanece rasa, ainda que ganhe pontos importantes ao permitir que Jeff Bridges surja em três versões diferentes: como o Kevin Flynn de cerca de 30 anos de idade e sua encarnação envelhecida e também como o programa CLU. Claramente divertindo-se ao compor o velho Flynn como uma espécie de Mestre Jedi hippie (suas gírias denunciam sua idade), o ator é responsável pelos melhores momentos da produção, já que o jovem Garrett Hedlund, como Sam, exibe pouco carisma e nenhuma expressividade. Enquanto isso, Olivia Wilde, belíssima, comprova ter uma forte presença em cena mesmo presa a uma personagem que lhe oferece poucas oportunidades dramáticas – e, com isso, o destaque no elenco secundário fica por conta de Michael Sheen, que, investindo numa composição estranhíssima, rouba a cena ao viver o ambíguo Zuse como uma espécie de drag queen albina que cita Casablanca com a mesma desfaçatez com que executa passos de dança gratuitos e divertidos.
Mas é mesmo em seus aspectos técnicos que Tron – O Legado merece todos os elogios: com um design de produção ambicioso e coeso (percebam como os servidores da Encom exibem a mesma luz vermelha dos vilões do primeiro longa), o filme ainda impressiona graças aos seus excepcionais efeitos visuais – que falham apenas, é preciso dizer, no rejuvenescimento de Bridges, que, como o jovem Flynn, parece um boneco de cera nada convincente. Da mesma forma, a trilha sonora composta pela dupla Daft Punk mostra-se acertada por trazer uma natureza eletrônica que, mais uma vez, remete à produção de 82 sem, com isso, abrir mão de sua originalidade.
Rodado em 3D e explorando ao máximo as possibilidades da tecnologia, Tron – O Legado ainda faz uma experiência interessante e bem-vinda ao trazer as seqüências no “mundo real” em duas dimensões (mesmo que os óculos devam ser mantidos no rosto durante toda a projeção) e provocando, com isso, um impacto maior ao só acrescentar a profundidade quando Sam entra na Grade – uma lógica similar à de O Mágico de Oz, que usava o Technicolor apenas quando Dorothy saía do Kansas, deixando as cores (ou, neste caso, a terceira dimensão) apenas para a fantasia.
Não que esta atrasada continuação vá exibir a longevidade do clássico de 1939 – ou mesmo a de Uma Odisséia Eletrônica -, mas, como passatempo regado a nostalgia, Tron 2 até que cumpre bem seu objetivo.

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